"Não vamos deixar tudo para o fim"
Carlos Brito prepara-se para remodelar, em força, o Rio Ave, para a próxima temporada, em função da saída de um elevado número de jogadores, e aguarda pela lista de dispensas dos grandes, sobretudo do F. C. Porto
Carlos Brito é, no Rio Ave, o abono de família. Nesta época, mais uma vez, foi o bombeiro que apagou o fogo da despromoção, conseguindo, na recta final e já com a meta à vista, sprintar para a permanência. Com os olhos no futuro, confessa ao JN que a remodelação vai ser acentuada, pretendendo contratar quase uma equipa nova, para que a tranquilidade surja mais cedo.
Na caminhada para assegurar a permanência, qual foi o jogo nuclear, o tudo ou nada?
Foi o que fizemos com o Trofense, em casa. Do seu êxito ou inêxito, resultaria o nosso sucesso ou insucesso na Liga. Foi o que aconteceu. Por outro lado, galvanizou a equipa que venceu o jogo a seguir, na Naval, o seu primeiro triunfo fora. A partir daí, a confiança foi total na permanência.
Mas esse factor psicológico é importante na prestação de um jogador?
Sem sombra de dúvida, mas sempre em prol da equipa. Tem de haver uma confiança colectiva e não individual. A maior força anímica de cada um origina o aumento de produtividade da equipa. Esse estado de espírito levou a pontuar com o Braga, em que fizemos um grande jogo.
Na segunda volta do campeonato, o Rio Ave fez o dobro dos pontos (20) da primeira. O que mudou? Foi o sistema de jogo?
O Rio Ave foi diferente, o que não significa, necessariamente, que foi melhor. Respeito muito o trabalho de quem me antecedeu. Tem a ver com sistemas diferentes. Até podia acontecer ao contrário. Quem fez o plantel, fê-lo em certo contexto táctico. Como entrei na fase em que era possível proceder a alterações, isso facilitou-me um pouco a vida. Aqui, tenho de enaltecer o esforço da Direcção, colaborando no objectivo de se conseguir formar uma equipa mais equilibrada para o meu figurino de jogo.
Mais equilibrada e mais ofensiva?
Não necessariamente. O meu desenho é o 4x3x3. Essa é a minha filosofia de jogo, que pode ser mais agressiva ou menos. Por exemplo, o Sporting joga em 4x4x2, em losango, e é uma formação extremamente ofensiva.
Tudo lhe corre bem no Rio Ave. É um clube talismã ou apenas simples coincidência?
É coincidência, mas a maior parte da minha vida passei-a lá. É natural que haja uma maior ligação. Isso não me inibe de ir para onde seja desejado. No Boavista, ficamos a um ponto da Europa, no Nacional, estávamos perto desse objectivo, a quatro jornadas do fim, assim como no Leixões, oriundo da Honra, que estava cinco pontos acima dos lugares de descida, na recta final, quando saí.
Que mudanças se podem esperar para a próxima época?
Quando cheguei, tinha 30 jogadores, um número impensável. Ficamos com 27, mas o ideal é 25 a 26, com a integração de dois juniores.
A equipa tinha uma média de idades elevada...
Isso é irrelevante. Agora, vou ter de reforçar a equipa com mais nove a dez elementos novos. Recordo que vai sair uma equipa completa, cerca de uma dúzia. Tinha jogadores emprestados que formavam quase meia equipa, sendo quatro deles avançados titulares - Candeias, Fábio, Yazalde e Pedro Moutinho. Está uma grande remodelação em perspectiva.
Ainda não há aquisições? Qual o sector mais carenciado?
O meio-campo e o ataque. Agora, há que conciliar orçamentos com a qualidade e disponibilidade dos jogadores referenciados. Para já, ainda não há nenhuma contratação. A lista é enorme e há que fazer uma filtragem.
O recrutamento nos grandes vai manter-se?
As relações com o F. C. Porto são boas, por isso temos de aguardar, mas só depois de haver uma selecção por parte dos clubes grandes. É difícil um treinador ter férias. Vamos tentar acertar as aquisições.
Em Dezembro acertou...
Sim, foram seis os novos jogadores e todos importantes. Houve quem fosse ao mercado e não conseguisse o objectivo. Exceptuando a Naval e o Setúbal, que se salvaram, as chicotadas não resultaram, em dois dos mais aflitos e nos outros resultaram. Respeito muito os meus colegas. O Belenenses reforçou-se muito em Dezembro, com consagrados, e não resultou. O futebol define-se pelo jogo e pelas suas circunstâncias.
A próxima época vai ser mais tranquila? Não apanha o comboio a meio...
Naturalmente que é uma vantagem iniciar a época. Terei mais opções, mas mais responsabilidades. A meta é garantir a permanência o mais cedo possível e não deixar tudo para o fim.
Hoje, a gestão de uma equipa é bem mais exigente que há uns anos atrás. Concorda?
Sem dúvida. Um jogador tem de ter um perfil bem profissional, para além da parte técnica. Mas igual exigência é comum aos treinadores, que têm de se dedicar quase 24 horas ao clube, por dia. Um jogador completo vai para além do pontapé na bola.
Diz-se que os dirigentes também interferem nessa gestão. Verdade?
Não. Comigo não acontece, o que há é uma harmonia de interesses entre as necessidades do treinador e as do clube. Tem de haver flexibilidade. Não posso pedir o Messi... Olhe, fala-se que o eng.º Rui Alves, líder do Nacional, é que recruta os jogadores. É falso. Nunca me impôs ninguém.
Como é que um treinador lida com salários em atraso?
Com realismo e profissionalismo. Recordo que, quando subimos de divisão pelo Rio Ave, tínhamos três meses de salários em atraso. Pode haver algum desânimo, mas o profissionalismo acaba por impor-se no relvado.
Como viu a queda do Boavista?
Não foi de agora, vem de trás. Desde a altura em que remodelaram o estádio. Foram custos incomportáveis. Depois, foi uma bola de neve. Gosto muito do clube, no qual entrei com 15 anos. Lamento a sua situação. O Boavista ainda me deve dinheiro, mas não o levo a tribunal. Respeito-o muito.
Trofense e Belenenses desceram. Houve surpresa?
O Trofense, não, pois tinha subido no ano anterior, mas o Belenenses, sim, até porque era candidato à Europa.
Carlos Brito prepara-se para remodelar, em força, o Rio Ave, para a próxima temporada, em função da saída de um elevado número de jogadores, e aguarda pela lista de dispensas dos grandes, sobretudo do F. C. Porto
Carlos Brito é, no Rio Ave, o abono de família. Nesta época, mais uma vez, foi o bombeiro que apagou o fogo da despromoção, conseguindo, na recta final e já com a meta à vista, sprintar para a permanência. Com os olhos no futuro, confessa ao JN que a remodelação vai ser acentuada, pretendendo contratar quase uma equipa nova, para que a tranquilidade surja mais cedo.
Na caminhada para assegurar a permanência, qual foi o jogo nuclear, o tudo ou nada?
Foi o que fizemos com o Trofense, em casa. Do seu êxito ou inêxito, resultaria o nosso sucesso ou insucesso na Liga. Foi o que aconteceu. Por outro lado, galvanizou a equipa que venceu o jogo a seguir, na Naval, o seu primeiro triunfo fora. A partir daí, a confiança foi total na permanência.
Mas esse factor psicológico é importante na prestação de um jogador?
Sem sombra de dúvida, mas sempre em prol da equipa. Tem de haver uma confiança colectiva e não individual. A maior força anímica de cada um origina o aumento de produtividade da equipa. Esse estado de espírito levou a pontuar com o Braga, em que fizemos um grande jogo.
Na segunda volta do campeonato, o Rio Ave fez o dobro dos pontos (20) da primeira. O que mudou? Foi o sistema de jogo?
O Rio Ave foi diferente, o que não significa, necessariamente, que foi melhor. Respeito muito o trabalho de quem me antecedeu. Tem a ver com sistemas diferentes. Até podia acontecer ao contrário. Quem fez o plantel, fê-lo em certo contexto táctico. Como entrei na fase em que era possível proceder a alterações, isso facilitou-me um pouco a vida. Aqui, tenho de enaltecer o esforço da Direcção, colaborando no objectivo de se conseguir formar uma equipa mais equilibrada para o meu figurino de jogo.
Mais equilibrada e mais ofensiva?
Não necessariamente. O meu desenho é o 4x3x3. Essa é a minha filosofia de jogo, que pode ser mais agressiva ou menos. Por exemplo, o Sporting joga em 4x4x2, em losango, e é uma formação extremamente ofensiva.
Tudo lhe corre bem no Rio Ave. É um clube talismã ou apenas simples coincidência?
É coincidência, mas a maior parte da minha vida passei-a lá. É natural que haja uma maior ligação. Isso não me inibe de ir para onde seja desejado. No Boavista, ficamos a um ponto da Europa, no Nacional, estávamos perto desse objectivo, a quatro jornadas do fim, assim como no Leixões, oriundo da Honra, que estava cinco pontos acima dos lugares de descida, na recta final, quando saí.
Que mudanças se podem esperar para a próxima época?
Quando cheguei, tinha 30 jogadores, um número impensável. Ficamos com 27, mas o ideal é 25 a 26, com a integração de dois juniores.
A equipa tinha uma média de idades elevada...
Isso é irrelevante. Agora, vou ter de reforçar a equipa com mais nove a dez elementos novos. Recordo que vai sair uma equipa completa, cerca de uma dúzia. Tinha jogadores emprestados que formavam quase meia equipa, sendo quatro deles avançados titulares - Candeias, Fábio, Yazalde e Pedro Moutinho. Está uma grande remodelação em perspectiva.
Ainda não há aquisições? Qual o sector mais carenciado?
O meio-campo e o ataque. Agora, há que conciliar orçamentos com a qualidade e disponibilidade dos jogadores referenciados. Para já, ainda não há nenhuma contratação. A lista é enorme e há que fazer uma filtragem.
O recrutamento nos grandes vai manter-se?
As relações com o F. C. Porto são boas, por isso temos de aguardar, mas só depois de haver uma selecção por parte dos clubes grandes. É difícil um treinador ter férias. Vamos tentar acertar as aquisições.
Em Dezembro acertou...
Sim, foram seis os novos jogadores e todos importantes. Houve quem fosse ao mercado e não conseguisse o objectivo. Exceptuando a Naval e o Setúbal, que se salvaram, as chicotadas não resultaram, em dois dos mais aflitos e nos outros resultaram. Respeito muito os meus colegas. O Belenenses reforçou-se muito em Dezembro, com consagrados, e não resultou. O futebol define-se pelo jogo e pelas suas circunstâncias.
A próxima época vai ser mais tranquila? Não apanha o comboio a meio...
Naturalmente que é uma vantagem iniciar a época. Terei mais opções, mas mais responsabilidades. A meta é garantir a permanência o mais cedo possível e não deixar tudo para o fim.
Hoje, a gestão de uma equipa é bem mais exigente que há uns anos atrás. Concorda?
Sem dúvida. Um jogador tem de ter um perfil bem profissional, para além da parte técnica. Mas igual exigência é comum aos treinadores, que têm de se dedicar quase 24 horas ao clube, por dia. Um jogador completo vai para além do pontapé na bola.
Diz-se que os dirigentes também interferem nessa gestão. Verdade?
Não. Comigo não acontece, o que há é uma harmonia de interesses entre as necessidades do treinador e as do clube. Tem de haver flexibilidade. Não posso pedir o Messi... Olhe, fala-se que o eng.º Rui Alves, líder do Nacional, é que recruta os jogadores. É falso. Nunca me impôs ninguém.
Como é que um treinador lida com salários em atraso?
Com realismo e profissionalismo. Recordo que, quando subimos de divisão pelo Rio Ave, tínhamos três meses de salários em atraso. Pode haver algum desânimo, mas o profissionalismo acaba por impor-se no relvado.
Como viu a queda do Boavista?
Não foi de agora, vem de trás. Desde a altura em que remodelaram o estádio. Foram custos incomportáveis. Depois, foi uma bola de neve. Gosto muito do clube, no qual entrei com 15 anos. Lamento a sua situação. O Boavista ainda me deve dinheiro, mas não o levo a tribunal. Respeito-o muito.
Trofense e Belenenses desceram. Houve surpresa?
O Trofense, não, pois tinha subido no ano anterior, mas o Belenenses, sim, até porque era candidato à Europa.
MANUEL LUÍS MENDES
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